As dificuldades de se estudar guitarra: Anos 80 X Anos atuais

By Alex Martinho | Assuntos Diversos

mar 01

Olá pessoal, hoje vou trazer um comparativo de como era estudar guitarra nos anos 80, quando eu iniciei meus estudos, e os dias de hoje.

Meu objetivo é mostrar as dificuldades que haviam e como as pessoas as driblavam, comparativamente a facilidades que temos hoje mas que muitos não aproveitam.

No final te mostro dicas para você não cair em armadilhas e aproveitar ao máximo seus materiais de estudo.

Na década de 80 para você ter acesso a material didático importado a dificuldade era imensa, um panorama totalmente diferente do existente atualmente.

O País era fechado às importações de quase tudo, inclusive métodos, livros e revistas.

Métodos e livros até existiam alguns nacionais de boa qualidade, mas no meu caso – que era o de um estudante interessado em aprender Rock – não havia nada produzido por aqui.

Um exemplo: para ter acesso a uma revista importada como a Guitar Player (ainda não existiam publicações nacionais similares) eu que morava em Niterói tinha que pegar três conduções e ir à Copacabana no Rio de Janeiro, pois lá havia uma única banca de jornais da cidade que, de alguma forma que desconheço, trazia de fora e revendia alguns exemplares da revista americana.

Era uma fortuna, tipo mais que o dobro do preço indicado em dólares na capa.

Não dava para adquirir todos os meses, mas eu conseguia algumas edições por ano e ficava babando nas matérias e fotos dos artistas e dos instrumentos.

Era como um mundo diferente que se abria para mim, outro planeta muito distante e utópico.

Com essa proibição de importação, métodos e livros só eram conseguidos quando algum amigo (ou às vezes “o amigo do amigo do amigo”…) fazia uma viagem ao exterior (nessa época muito mais rara devido ao custo altíssimo) e comprava.

Chegando aqui, algumas almas caridosas disponibilizavam esse material para cópias e esse era o único jeito de se espalhar informações.

Eu tinha por exemplo – e devorei por meses – a “cópia da cópia da cópia” do método “Speed Picking” do Frank Gambale.

Com a escassez de material da época, a gente para aprender estudava a fundo cada capítulo, cada página, fazia o popular “tirar leite de pedra” para aproveitar ao máximo cada conteúdo.

Eu ficava semanas em um único exercício, focado em melhorar um pouco a cada dia, visando atingir a maestria naquilo.

O mesmo em relação a vídeo aulas.

Não existiam ainda produções nacionais, e as importadas (no formato disponível na época, ou seja em vídeo cassete VHS) eram disputadíssimas exatamente como eram os livros.

Eu tinha, por exemplo, a “cópia da cópia da cópia” da aula “Intense Rock” do Paul Gilbert e assisti e reassisti tantas vezes que depois de um tempo a imagem já nem tinha mais cor – ficava em um tom esverdeado que até reforçava o lance do mundo distante, dando uma aura de “alienígena” aos guitarristas gringos.

Tive paralelamente a isso tudo alguns professores particulares até o ano de 1991, quando surgiu a oportunidade de eu ir estudar no Musicians Institute da California.

Lá tive inúmeros professores e acesso a tanto material didático que seria impossível estudar um terço que fosse durante o ano que lá estive.

Um pouco depois de meu retorno ao Brasil surgiu a internet, e todo o panorama mudou rapidamente até chegarmos aos dias atuais.

Hoje a situação é bastante diferente, praticamente oposta à anterior.

Todo o tipo de informação é encontrado livremente pela internet, tanto em forma de vídeos, métodos e sites com informação gratuita até inúmeros serviços e cursos online pagos.

Mesmo material físico, como livros didáticos e DVDs com aulas, podem ser comprados facilmente.

Por exemplo, o livro e a vídeo aula que eu comentei anteriormente estão disponíveis para compra para quem quiser, de qualquer lugar do mundo:

Aí você pensa: hoje em dia é muito melhor!!! Está tudo na mão para quem quer aprender!

Só que há um outro lado, nada positivo, que acompanha toda essa abundância de informações atual…

Da mesma forma que a escassez de material didático provocava uma enorme valorização de cada item conseguido no passado, a fartura atual provoca na maioria das pessoas efeito oposto, ou seja, pouca atenção e desvalorização.

A pessoa fica perdida em um mar de informações e tenta aprender tudo ao mesmo tempo, de forma rápida e superficial, acabando por assimilar muito pouco, praticamente nada.

Enquanto antigamente se ficava meses em um mesmo método, em um mesmo exercício, buscando a maestria e perfeição, hoje se passa o olho rapidamente, no máximo se dá uma tocada rápida no instrumento e já se vai para outro material, e mais outro, e mais outro.

Soma-se ao problema o fato de que, com as redes sociais e aplicativos de mensagem rápida como Messenger e WhatsApp, a todo momento se é interrompido e a atenção e concentração que deviam ser dadas ao estudo e aprendizado ficam severamente comprometidas, senão inviabilizadas.

Eu já tive, por exemplo, o caso de um aluno específico que chegou para mim em um dia de aula com um HD inteiro de métodos e aulas baixados, gigabytes de informações.

Ele já tinha aquilo há meses, daí eu perguntei para ele o que é que ele já tinha pego para estudar e ele me falou que “nada”, estava apenas “passando o olho” em tudo.

Pelo que percebi, ele estava perdendo muito mais tempo buscando as informações, “caçando coisas para baixar”, do que estudando efetivamente!

Como se fosse uma competição de quem tem mais material, e como se a quantidade fosse, sozinha, fazer alguma diferença – enquanto é a qualidade do estudo que importa de verdade!

Eu mesmo por muitas vezes me pego desconcentrado e apenas passando o olho em informações.

E, é claro, tem as redes sociais e os aplicativos de mensagens me desconcentrando boa parte do tempo também.

Mas ter a consciência de que há algo de errado sempre é um enorme passo para repararmos esse erro, e como eu tenho essa consciência luto o tempo todo comigo mesmo para não cair nessas armadilhas e minimizar o problema.

No final das contas me considero um felizardo por ter nascido na época em que nasci, onde bastava me trancar com um livro e minha guitarra no quarto e nada mais me interessava no mundo lá fora!

Ficava horas e horas ali, imerso no aprendizado de meu instrumento, e colho os frutos disso até hoje, possivelmente colherei até o fim da vida.

Mas o tempo não volta atrás e temos que encarar a situação atual.

O que é o mais inteligente a se fazer nos dias de hoje?

Com força de vontade e determinação podemos simular esse ambiente ideal de isolamento e concentração.

E melhor, aproveitando toda essa fartura atual de material disponível, mas de forma organizada! Conseguindo esse objetivo, você pode ir muito mais longe, muito mais rápido do que qualquer pessoa da minha geração. Mas nenhuma grande conquista vem sem um grande esforço!

Segue abaixo as minhas dicas de como você pode aproveitar melhor seu tempo de estudos:

1Escolha um material por vez, e só avance para o seguinte após o seu domínio completo. Para te ajudar na escolha do material correto e no cronograma de estudo, o ideal é você contar com um professor – confira esse meu post onde falei exatamente sobre esse assunto.

2Desconecte-se da internet totalmente enquanto estiver estudando, ou se isso não for possível – quando por exemplo você estiver estudando através de algum material online – não acesse nenhuma rede social, aplicativo de mensagens ou outras distrações do mundo virtual.

3Organize da forma mais produtiva possível seu tempo de estudo – eu também já fiz um post sobre esse assunto que você pode conferir.

São somente três pontos, mas você vai precisar de muita determinação e força de vontade para cumpri-los a risca!

Lembre-se sempre, sem sacrifício não há conquista.

Tudo de bom e até a próxima!

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About the Author

Alex se formou com “honors” (méritos) pelo renomado Musicians Institute da California (EUA) em 1992. Já teve milhares de alunos ao longo de mais de 25 anos ensinando música, e em 2008 fundou sua própria escola, a Música Moderna, hoje uma das mais importantes do RJ. É um dos músicos mais conceituados do Brasil, com uma carreira de sucesso que inclui 5 CDs e 3 DVDs lançados, inúmeras colaborações em revistas especializadas (incluindo matérias e fotos de capa), já acompanhou artistas por todo o país e tem apoio de grandes marcas de equipamentos como Tagima, NIG, Santo Angelo, Albion e Sergio Rosar. É autor de diversos cursos online, tanto de guitarra quanto de teoria musical.

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